segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre meus heróis

Todos os meus heróis
eram bêbados,
drogados
e loucos.
Menos um.

Todos os meus heróis
eram suicidas,
pessimistas
e misantropos.
Menos um.

Todos os meus heróis
tornaram-se celebridades
pelos seus excessos
e excentricidades.
Menos um.

E essa exceção
faz toda a diferença.
Contraria a regra,
apenas para ser,
o maior de todos.

Porque o meu maior herói,
nunca bebeu
ou fumou
e sempre foi absurdamente sóbrio.

Porque meu maior herói,
sempre tinha um enorme sorriso no rosto
e amava a todos
e a tudo que fazia.

Porque meu maior herói
era simples,
sem excessos,
e salvou muito mais pessoas do que a mim.

E por mais que eu escreva todos os poemas,
romances,
ou epopéias épicas
em seu louvor,
nunca chegaria aos pés de sua grandiosidade.

Porque o meu velho,
sempre fora
o homem mais simples
e ao mesmo tempo
o mais grandioso
que esse mundo já viu.

E se qualquer versão de paraíso
estiver correta,
tenho absoluta certeza que é lá
que ele estará,
cuidando de mim
e de todos
como sempre fez.

Eu amo você, vô.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Escrever

Escrever bem alimentado,
com uma noite de sono completa,
frente ao seu Apple,
deve ser fácil.

Escrever num apartamento
bem decorado,
bem localizado
e limpo,
deve ser fácil.

Escrever sobre
todas as coisas boas
que supostamente existem,
com todas as contas pagas
deve ser fácil.

Mas,
escrever a base de cigarros,
há muitas noites sem dormir,
em um velho caderno do ensino médio
doado pelo governo,
enquanto seus hérois estão morrendo,
as contas batendo em sua porta
e a poeira da sua casa mal rebocada
na periferia
caindo sobre sua cabeça
e de todos os outros insetos,
lesmas e bixos que você
se quer conhece
deveria ser?

terça-feira, 24 de junho de 2014

Demolição

Então havia um muro
aparentemente forte,
aparentemente firme,
aparentemente.

E havia esse costume:
todos que passavam
davam-lhe uma pancada.

Às vezes fortes,
às vezes fracas.

Mas sempre,
ao menos uma
pancada.

Ninguém se preocupava com
infiltrações,
tempo,
ou possíveis rachaduras.

Apenas batiam,
batiam
e batiam.

Sem mais
nem menos
ele caiu.

Felizmente ninguém se feriu.

E no lugar de poeira,
exalou uma espessa fumaça de cigarro.

Todos dizem que eu fumo demais.

Culpo a meia dúzia de arrependimentos
que tenho na vida.

Meia dúzia que,
qualitativamente,
valem mais que doze,
ou até
vinte e quatro.

O problema de verdade está no concreto
e na infância.

Faltou cimento.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

2014

As drogas estão acabando com nossa juventude.

Os cigarros,
a maconha,
o pó, o lsd
e o crack
estão acabando com nossa juventude.

O alcool não.

As bombas de gás,
o spray de pimenta,
a polícia não.

Opressão? De quem?
A NOSSA juventude não sofre isso.

Falta Deus no coração desses vândalos.

É que eles dizem.
Nós temos síndrome de vira-latas.
Nós destruímos o país,
o mundo,
a vida deles.

E precisamos do Deus deles,
mas na verdade
o que temos
é só o cigarro.

E a maconha,
o pó e o lsd,
às vezes o crack.

Mas sempre,
SEMPRE,
as bombas de gás,
os sprays de pimenta,
a polícia
e a opressão.

Aguardando ansiosamente por Deus.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Casa

Ta ouvindo?
Crianças correndo na rua
e o bar da esquina lotado.

Pra onde eu olho
vejo tijolos expostos,
reboco bruto.

Falta acabamento.
Falta encanamento.
Sobra barulho.

A bola passou
entre dois chinelos
e o grito de gol
interrompeu minha leitura.

Sorri.

Estou em casa.