Já sonhei em ser músico,
poeta, escritor,
professor, pesquisador,
bom vivant, viajante,
bêbado ou louco.
Mas é difícil sonhar
com dois reais no bolso
num mundo cheio de ódio.
Sonhos são só sonhos.
Mas nem sonhar é possível
indo dormir
uma da manhã
e ter que acordar as cinco.
Preocupado com o aluguel,
a luz,
a água
e o telefone.
Com dois reais no bolso.
E ter que acordar as cinco,
daqui a quatro horas
e ainda ter que sonhar.
Com dois reais no bolso.
As contas a pagar
o despertador toca
cinco da manhã.
E meus sonhos acabam no meio.
Aluguel. Água.
Luz. Telefone.
Uma da manhã. Cinco da manhã.
Quando dou por mim
não dormi.
E tenho trabalho a fazer.
Sonhar não é de graça
e dois reais
não compram
nem meio-sonho
nesse mundo de ódio.